O atraso no uso da energia solar
- ExpressãoWeb
- 8 de fev. de 2022
- 6 min de leitura
Atualizado: 9 de mar. de 2022
Apenas 1,7% da energia produzida no Brasil é proveniente dessa fonte

Foto: Pixabay
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A energia elétrica chegou no Brasil por volta de 1880, com a instituição das termoelétricas e em 1889 foi criada a primeira hidrelétrica, em Juiz de Fora (MG). A partir de então, o uso da água para gerar energia ganhou força no país, principalmente pela grande quantidade de rios no território brasileiro. Segundo o Balanço Energético Nacional de 2021, no Brasil, 65,2% da energia produzida é proveniente das usinas hidrelétricas. Ainda segundo a pesquisa, o país tem matriz elétrica mais renovável do que quando comparado ao resto do mundo.
No Brasil, 83% das fontes de energia são renováveis contra apenas 25% do mundo. Porém, dizer que energia hidráulica é renovável vai contra alguns pontos importantes que definem o que é ser renovável. A construção de hidrelétricas traz diversos problemas ao meio ambiente, desde a construção de barragens, que deslocam famílias no processo e prejudicam a fauna e a flora local até o acúmulo de sedimentos na barragem, que podem cooperar para a formação de algas e respectiva emissão de gases não benéficos para a atmosfera terrestre, além da falta de chuvas que podem comprometer a produção energética.
Mas afinal, o que são fontes de energia renováveis?
Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), as fontes de energia que pertencem a este grupo são consideradas inesgotáveis, já que suas quantidades se renovam constantemente ao serem usadas. O Brasil hoje está passando pela pior estiagem dos últimos 91 anos, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). A água pode até ser um recurso reutilizável, mas tem se mostrado um recurso finito. Com o descaso para com os rios, mares e meio ambiente, as fontes de água limpa têm reduzido drasticamente e os reservatórios das usinas hidrelétricas têm se mantido abaixo da média.
Dentre tantos problemas, por que o Brasil escolheu investir em energia hidráulica?
Segundo o geógrafo Gabriel Plaviak, a fartura de rios no país foi essencial para a escolha em investir em energia hidráulica. “Isso contribui para que as hidrelétricas gerem um grande volume de energia. Desse modo, se criou a concepção no Brasil que esse tipo de energia gerava um grande volume energético”. Segundo Plaviak, a hidrelétrica de fato gera muita energia, o que na época era o mais viável, já que não existiam estudos sobre os possíveis impactos da construção de hidrelétricas.
Outro ponto é a criação das Pequena Central Hidrelétrica (PCH) e Central Geradora Hidráulica (CGH), usinas pequenas que geram menos energia que as tradicionais. Elas são mais baratas, precisam de um menor espaço e, de fato, são menos agressivas ao meio ambiente. Porém, com a facilidade de aprovação para a criação dessas centrais, diversas delas estão sendo colocadas nos rios do Brasil e, juntas, podem ter o mesmo impacto de uma grande usina. Segundo a Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas, no Brasil, atualmente, existem mais de 425 PCHs e 704 CGHs em funcionamento. O Paraná conta com 100 PCHs e CGHs e o estado tem projetos para a construção de novas usinas de pequeno porte. Portanto, o que um dia já foi considerada uma fonte de energia renovável, não pode mais ser considerada assim.
O sol como fonte renovável
Desde a primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento e Meio Ambiente Humano, em 1972, em Estocolmo, as discussões sobre a preservação do meio ambiente ganharam força e desde então foram buscadas alternativas que menos impactassem a natureza. O uso da energia solar sempre esteve presente na vida dos humanos, com a iluminação durante o dia e o aquecimento das casas. Com o uso de vidro, era possível acender fogueiras, entre outras possibilidades de usar passivamente fótons, partículas elementares que compõem a luz.
Segundo o Portal Solar, site especializado em energia fotovoltaica, a energia solar utilizada como conhecemos hoje surgiu em 1954, por Russell Shoemaker Ohl, junto ao anúncio da primeira célula fotovoltaica durante uma reunião da National Academy of Sciences. Com a descoberta do efeito fotovoltaico, o uso dos painéis solares iniciou em 1958, no satélite Vanguard I que segundo o Portal Solar, utilizou um painel de 1 W para alimentar seu rádio na viagem. Desde então, os painéis têm sido colocados em residências, estabelecimentos e em meios de transportes, como ônibus, navios e aviões.
A energia solar é de fato renovável, pois provém do sol que libera energia em abundância, mas o mais importante, ela é sustentável. Os painéis podem ser colocados em telhados e em campos abertos já existentes, não precisando desmatar e destruir enormes espaços de terra para serem utilizados. Os painéis solares ainda têm um valor alto, mas sua fácil instalação e custo-benefício, depois de instalado, têm feito com que as pessoas e empresas ao redor do mundo optem por esse tipo de energia. O atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, já lançou um plano para que até 2050, 45% da eletricidade produzida no país seja solar. No Brasil, os investimentos e a utilização da energia solar caminham lentamente.
Somente entre janeiro de 2020 e setembro de 2021, de acordo com informações do Sistema de Gestão Ambiental, concedidas pelo Instituto Ambiental do Paraná, foram liberadas três licenças prévias para novas centrais hidrelétricas na região de Guarapuava (PCH Cavernoso 8 – Guarapuava, PCH São Jerônimo - Guarapuava,
CGH Paredinha – Turvo). Mas os painéis solares ainda sofrem com a falta de investimentos. No país, segundo o EPE, apenas 1,7% da energia é proveniente de energia solar.
Em 2019, o Paraná, atingiu a marca de quase 8 mil instalações de energia fotovoltaica, que é produzida através da conversão da luz solar em energia elétrica. O estado ocupa a 5ª posição em relação a produção de energia solar, são mais de 280 kw/h que estão em operação em indústrias, comércios e residências dos paranaenses.
Agora, no período de crise hídrica em 2021, com a conta de luz subindo, as pessoas estão procurando alternativas para ter energia de forma mais barata. Segundo a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a geração solar cresceu 46,6% no início de outubro, passando de 772 megawatts médios (MWmed), em outubro de 2020, para 1.132 MWmed.
A servidora pública Renata Daletese instalou as placas de energia fotovoltaica há três anos e desde então tem economizado na conta de luz. A servidora optou pela instalação de placas pela economia e sustentabilidade que decorrem da energia solar. Para ela, o processo é facilitado pelas empresas que aplicam as placas solares, mesmo com o investimento sendo, inicialmente, alto. “Hoje tem linhas de crédito específicas e super facilitadas para colocar energia solar. Não precisa de burocracia em banco, por exemplo, as empresas que vendem organizam tudo”, afirma Renata.
Visando a economia, a família da servidora pública Suellen Lopes também optou por instalar as placas solares. Ela conta que o investimento inicial foi de R$ 25 mil e hoje as contas não passam de R$ 100 no inverno, quando há o uso de aquecedores e chuveiros elétricos. “Meu pai, que é construtor, teve experiências com energia solar nas casas em que ele trabalhava e decidiu instalar na própria residência. Antes, as contas eram de R$500, hoje não passam de R$ 70”, observa Suellen.
Mas por que o Brasil não investe em energia solar?
Além do fato de o país ter diversos rios, o que faz com que o uso de hidrelétricas seja fácil, outro ponto a ser levado em conta quando avaliar o porquê de o Brasil não investir em mais formas de energia renováveis e sustentáveis é a questão econômica. Amarildo Hersen, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual do Centro-Oeste, destaca que agora que o Brasil está caminhando para facilitar a criação de usinas renováveis.
Segundo o professor, foi em 2012, com a Resolução Normativa 482 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que a energia solar e outras energias renováveis e sustentáveis obtiveram estímulo de utilização dentro da classificação de micro e minigeração distribuída. Somente em 2015 que, segundo Amarildo, com a nova normativa 687, houve mudanças, como a elevação do limite de capacidade instalada de minigeração, que era de um megawatt de potência, e passou 5 megawatts de potência.
Na normativa, também foi colocado a previsão de empreendimentos de múltiplos unidades consumidoras, como condomínios e de geração compartilhada sob forma de consórcio ou de cooperativa. Em janeiro deste ano, o Presidente Jair Bolsonaro sancionou o Projeto de Lei nº 5.829/2019 que institui o Marco Legal da Geração Distribuída, que permite que os consumidores, produzam a própria energia a partir de fontes renováveis.
“A gente espera que após a sanção do Marco Legal, os investimentos possam sim aumentar mais no Brasil”, afirma Hersen.
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